quinta-feira, 15 de abril de 2010

Direção Amazônia

Já foi dito aqui no blog que João Bird morou 10 anos na Amazônia mas o que leva uma pessoa a largar seu escritório em Ipanema e tudo o mais e embarcar nessa aventura?

Em 1992 João Bird produziu industrialmente sua primeira linha de móveis, 450 unidades que batizou de Linha Raza, em razão de sua baixa estatura. Foi produzida com sobras de mogno que não atendiam ao padrão comercial, e em muitos casos eram usadas como lenha para caldeiras.





No ano de 1994 o designer foi à um debate na PUC-Rio contra o uso do mogno, pois esta já era uma árvore em extinção, realizado pelo Greenpeace. Ao se apresentar e dizer que estava utilizando o mogno como matéria prima recebeu uma grande vaia dos vários jovens que lá estavam. Quando as vaias cessaram ele argumentou que se os assuntos ali debatidos não chegassem de maneira muito clara aos marceneiros, carpinteiros, arquitetos e designers pouco disso valeria, pois são estes profissionais os maiores responsáveis pelo uso da madeira. Sua participação lhe valeu o convite de seguir com o Greenpeace por 45 dias na Amazônia em um projeto em defesa das floretas tropicais do mundo, mapeando serrarias e pequenas carpintarias da região. Essa viagem foi impacto, ao ver a Lua e as estrelas refletidas no Rio Negro era como se flutuasse com a canoa no espaço.

Após os 45 dias retornou para o Rio de Janeiro e em 1996 voltou à região quando recebeu o convite da ONG Saúde e Alegria, em Santarém, Pará, para fazer a cenografia do III Encontro de Promoção Social e Ambiental da ONG, no rio Arapiuns, afluente do Tapajós, na comunidade de São Francisco. Para a realização do trabalho teve a ajuda de mais ou menos 42 homens da comunidade. Foram 40 dias de experiências muito interessantes e importantíssimas para sua decisão.

Rio Arapiuns

Rio Tapajós

Uma delas rendeu uma boa história: na região é conhecido o mito do "Boto", que possui a qualidade de emergir das águas dos rios à noite, adquirir forma humana e se tornar um homem tão atraente que o magnetismo é irresistível à todas as mulheres. Por isso, toda donzela era alertada por suas mães para tomarem cuidado com os flertes que recebiam de homens bem vestidos e usando um chapéu, pois este era usado para ocultar um orifício para respiração que originalmente o animal possui no alto da cabeça. João Bird quando chegou na comunidade estava vestido com uma camisa florida, óculos escuros e um chapéu. Eugênio Scannavinno Neto, fundador da ONG, falou aos habitantes da comunidade que o designer seria seu chefe e ao final perguntou se eles teriam algum questionamento a fazer. O senhor mais velho da comunidade pediu a palavra e disse que João não poderia nem olhar e nem se aproximar das moças de lá. João ficou sem acreditar mas consentiu pois não teve escolha. Dias depois descobriu que por via das dúvidas os ribeirinhos preferiam se prevenir.

Outro caso que chamou sua atenção foi o fato de Silvio, exímio carpinteiro e seu braço direito, à três dias do encontro e milhares de coisas a fazer, não ter aparecido para trabalhar de manhã. À tarde, todos trabalhando ele apareceu com uma bolsa à tira-colo e uma vara de pescar. João perguntou o por quê de sua ausência. Silvio disse que naquele dia não era dia de trabalho era dia de pescar, e deixou o designer encantado com a pureza e a verdade daquele lugar.

O encontro rendeu uma foto novela. Entre voluntários e ribeirinhos, ela contou com a participação de Giulia Gam, que a dirigiu ao lado de João, e Marcelo Tas que também estava presente.

páginas 7 e 8 da fotonovela

João voltou ao Rio e não aguentou mais. No ano seguinte retornou à Amazônia e lá ficou por dez anos.

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